Brasília,

Em 12 anos, Alagoas reduz analfabetismo em apenas 20% e expõe negligência com negros e idosos

Alagoas segue como o estado com maior taxa de analfabetismo do país; redução do índice foi tímida na última década

Por: Ana Cecilia - Agência Tatu

Alagoas segue como o estado com maior taxa de analfabetismo do país; redução do índice foi tímida na última década

Em Alagoas, mais de 400 mil pessoas não sabem ler nem escrever. Segundo dados do último Censo do IBGE, realizado em 2022, 17,66% da população de Alagoas é analfabeta. Esse número representa uma redução de apenas 20% em 12 anos, mantendo o estado no topo nacional do analfabetismo, com número seis vezes acima de Santa Catarina, estado com o menor índice do país.

Quando são analisados os dados de 2022 e se faz uma comparação com o Censo de 2010, se constata que, entre os dois períodos, a taxa de analfabetismo em Alagoas teve uma redução de apenas 20,61%. O Censo ainda revela o perfil dos alagoanos sem acesso à educação: mais de 320 mil (13,39%) analfabetos no estado são pessoas autodeclaradas como pretas ou pardas, e os idosos representam a parcela mais expressiva dessa população, com 45,59% do total.

Políticas públicas
Para a alfabetização de jovens, adultos e idosos, a modalidade de ensino Educação de Jovens e Adultos (EJA) foi criada para garantir o acesso à educação daqueles que não tiveram a oportunidade de estudar na idade escolar correta. No entanto, dados do Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais (Inep) apontam a redução de matrículas no EJA. Entre 2022 e 2024 houve 18% menos matrículas nesta modalidade em todo o território alagoano.
A responsabilidade da manutenção e da distribuição dessas vagas para a Educação de Jovens e Adultos (EJA) é compartilhada pelos estados e municípios. A Secretaria do Estado de Educação de Alagoas informou que a Rede Estadual de Alagoas possui ações voltadas para o crescimento das matrículas nesta modalidade, como a implantação da EJA ensino médio, no formato modular e os programas Cartão Escola 10 e Vem Que Dá Tempo, lançados em 2021.

Na proposta da EJA Modular Médio, a oferta é organizada em quatro módulos – práticas de Linguagem, Matemática, Ciências Humanas e Ciências da Natureza. Já o Cartão Escola 10 oferta o benefício mensal de R$100 para quem está matriculado no ensino médio parcial. Já os alunos do regime integral recebem R$150 mensais. Os estudantes que concluem o ensino médio recebem a Bolsa Conclusão, no valor de R$2 mil. O Vem Que Dá Tempo oferta bolsas de até R$ 500.

A Secretaria Municipal de Educação de Maceió (Semed) informou, em nota, que busca atender a carência da Educação de Jovens, Adultos e Idosos na capital, por meio do edital do Brasil Alfabetizado, que visa erradicar os índices de analfabetismo na capital. A Semed disse ainda contar com ações de mobilização para que pessoas analfabetas estudem em turmas próximas a suas residências.

Entre as ações da Prefeitura de Maceió, segundo a Secretaria, estão garantir fardamento e material didático a todos os estudantes, oferta de Curso de Formação Inicial Profissionalizante dentro da própria matriz curricular e manter as matrículas abertas nas 40 unidades da rede municipal de ensino que atendem a modalidade.

Reparação histórica
A professora Luciana Santana, socióloga e diretora do Instituto de Ciências Sociais da Universidade Federal de Alagoas (UFAL), avalia que o estado tem um histórico “muito problemático”, e que ainda sofre com disparidade em comparação a outros estados, apesar dos investimentos nos últimos anos. “Esses investimentos também são muito recentes, o chamado ciclo de educação leva em torno de 12 anos para dar resultados. Esses esforços precisam ainda ser controlados e monitorados para observar sua eficácia e sanar possíveis problemas.”

Já sobre os idosos, ela explica que a população do Brasil tem envelhecido muito rápido, então é preciso pensar nas ações para essa faixa etária. “Para além de um pensamento de cadeia produtiva, educar os mais velhos é também uma reparação histórica em termos de direitos humanos, pois existiam muitos obstáculos que os impediram de estudar no passado, é dignidade humana, mais do que indicadores”, completa Santana.